O Plano Nacional de Banda Larga é uma medida do governo brasileiro que tem seus méritos, mas é outro sintoma de um costume brasileiro muito claro: é melhor apagar incêndios do que os prevenir.
Essa medida é comparável a outras como ProUni e REUNI. São tentativas de mitigar uma situação muito mais grave e generalizada na sociedade brasileira: falta de educação. Quando digo falta de educação, não digo que não haja acesso a educação no país. Os índices demonstram que a oportunidade ao ensino está mais ampla, mas que tipo de formação é dada?
Antes de tecnologia, ou mesmo oportunidade, a sociedade precisa ser educada. Educação antes de tecnologia é a ordenação correta. A informática e a internet são ferramentas muito poderosas para serem disponibilizadas para pessoas despreparadas.
Não é o caso de não ter um plano de universalização do acesso a internet e a toda a informação que ela disponibiliza, mas as prioridades estão invertida. Em lugares onde a qualidade de transmissão de conexões de internet é melhor também é visível que houve muito tempo dedicado a formação da população.
Quem faz melhor uso das ferramentas é quem melhor conhece as técnicas e as possibilidades. Criar uma população crítica e ética é essencial. A democratização do acesso no Brasil significa também que uma grande quantidade de pessoas sem preparo e sem capacidade crítica estará ganhando acesso a uma ferramenta que pode ser usada de uma forma malévola, até mesmo perigosa.
Que uso esperar desses internautas? Não pode ser tão absurdo vislumbrar apenas um aumento no acesso a redes sociais enquanto oportunidades educacionais e econômicas seriam marginais. Num país onde a falta de ética e a acomodação social é tão marcante dar um instrumento tão poderoso sem que haja sequer um conjunto legal para evitar excessos é temeroso.
É fundamental que haja a criação dessas oportunidades. Se uma única alma se salvar e tiver melhores e maiores oportunidades de aprendizado e empreendedorismo essa ação já é positiva. O que é preciso manter em vista é o preço que vai se pagar para isso.
É uma situação medonha: não está bom do modo que está e não parece que as ações em implantação vão melhorar as coisas. Uma maior quantidade de pessoas acessando a internet é um modo de integração global, um passo na formação de uma sociedade mundial mais aberta, expressiva e dinâmica. Enquanto isso uma maioria pouco educada é sinônimo de usos menos elevados como pirataria, abusos no uso da liberdade de expressão, e até mesmo criminalização.
Mais do que uma formação técnica que pode acontecer nas escolas, é necessário uma formação ética desse grupo de usuários. Não é apenas ampliar o acesso e rezar pra que as coisas se encaminhem bem. Cruzar os dedos não resolve. Antes de tecnologia, educação.
Talvez as pessoas tenham uma visão muito inofensiva da informática e da internet. Elas não são inofensivas e cobram sua parcela. Para ver um exemplo: dificilmente se deixaria uma arma carregada na mão de alguém de onze ou doze anos, mas muitos pais permitem que seus filhos dessa idade tenham profiles em redes sociais que solicitam explicitamente que seus usuários sejam maiores de idade.
É preciso formar uma geração capaz de entender quais as demandas que ela deve fazer em relação a acesso a internet, a privacidade, liberdade de expressão, respeito a propriedade pública e privada antes de dar armas tão poderosas a essas pessoas.
Quando eu digo que acho que as pessoas deveriam ter habilitação para usar computador e internet uns me consideram ranzinza ou metido, mas muitas delas não dariam um carro ou uma arma para um jovem de quatorze ou quinze anos. E se dariam não são pessoas que eu me importaria com a opinião.
Universalizar e democratizar o acesso de qualidade a rede mundial de computadores, mas sem esquecer que estamos fazendo isso com uma população pouco educada e pouco ética. Lembrando que há graves lacunas na regulamentação do uso da internet em território brasileiro. Precisamos estar atentos ao preço que iremos pagar em consequencias humanas e sociais.
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