Outro dia eu li um post muito interessante sobre um posicionamento contra a classificação de videogames como arte. Depois de alguma reflexão eu escolhi meu lado.
O grande problema aqui é a ambiguidade. Há videogames e quebra-cabeças eletrônicos. Um quebra-cabeça eletrônico é um jogo jogado em um dispositivo eletrônico. Até jogos comuns como blackjack (vinte e um) e damas estão em dispositivos eletrônicos. Se você considera Xadrez um jogo em vez de um esporte, Xadrez digital contra o computador é um quebra-cabeça eletrônico. Eu particularmente prefiro quebra-cabeças eletrônicos.
Videogames são algo diferente. Eles não são apenas sobre resolver um problema contra um antagonista automático. Videogames são tocados, abençoados, com a mais permeadora e abstrata forma de arte: a literatura. Um ponto fundamental num videogame é que ele precisa seguir uma história (ou criá-la de algum modo).
É muito simples perceber que há histórias por trás de videogames modernos e antigos. Pode ser apenas o plano de fundo para um bando de lutas ou um roteiro complexo e misterioso. Algumas vezes as pessoas usam a história apenas como uma desculpa para matar zumbis, parecido com alguns por aí afora. Mais do que isso, se há literatura há arte. Não existe isso de mais ou menos arte. Se existe arte é arte. O quanto você gostou desse trabalho em particular é sua total escolha.
Eu até considero uma pessoa que tenta nega videogames como arte está depreciando a literatura. Ainda mais, há outros tipos de arte compondo-os. É claro que há artes gráficas envolvidas. Mesmo os quebra-cabeças eletrônicos estão repletos de arte gráfica. E gráficos são fundamentais também para o cinema e as pessoas não o negam como arte.
Talvez o problema é com o desafio envolvido. Nós dificilmente aceitaríamos Salto em Distância como arte. Mas nos videogames o jogador também atua como ator. Existe um certo nível de interpretação. O jogador encarna a personagem, avatar, naquela história. O problema do papel do jogador na arte é a mesma ambiguidade que há na dramaturgia. Não há peça sem atuação. Mas também nos jogos e esportes não há disputa sem os participantes. O jogador de videogames faz o que o ator faz: constrói da literatura uma outra forma de arte.
Há um livro interessante sobre essa ambiguidade entre jogo e arte. Das Glasperlenspiel (O Jogo das Contas de Vidro) é o ultimo trabalho do autor alemão Hermann Hesse. Naquele universo ficcional há um jogo que encapsula toda a síntese do aprendizado humano e as disputas são de algum modo peças de arte.
Mesmo que os video games estejam longe do conceito aludido em Das Glasperlenspiel eles são arte e mais que isso. Arte não encapsula os videogames, mas eles não deveriam ser excluídos do conjunto de arte tão pouco. Eu acho que a síntese é: já que videogames tem literatura e arte gráfica neles eles são arte, mas eles não são apenas arte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário